quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

E se eu não soubesse?

Uma certa vez me perguntaram se eu fazia ideia que Che e Fidel pegavam em armas, e mataram gente. Eu disse que sim, pois afinal, todos sabemos. E então veio a pergunta que nunca me fizeram antes. -"Se tu sabe disso, e defende a esquerda, tu pegaria em armas e mataria pelo ideal?"

Sim e não. Concordo e defendo a esquerda, mas nunca pegaria em arma, me nego a disparar uma vez se quer. Por esporte, por caça, ou por servir. A propósito, sou totalmente contra alistamento obrigatório e esse monte de besteira sobre forças armadas. O Brasil é o meu país, mas minha raça é a humana. E a raça humana não é composta só por brasileiros, é composta por todos os humanos, evidentemente.

A luta armada foi, neste caso, violenta tanto para A, quanto para B. Se A matasse 10, B matava 15. Se B torturava 10, A torturava 15. A simples matemática do desumano. Como se vidas, independente da forma de pensar, fossem feitas para acabar com algumas balas. Mas há um contraponto muito importante. "A" esta matando para manter a integridade do estado e sua soberania, pois o lado "B" irá matar para tomar o poder de "A", e se meu poder está ameaçado eu preciso me movimentar para continuar onde estou. "B" está matando pois precisa tirar o poder de "A", e se não matar, o outro o fará. "B" também pensa que precisa matar pois há gente que não tem nada a ver com A ou B que está morrendo de fome, e que tem outros que dão ao cachorro trufas de côco com leite. Matar não é a resposta, JAMAIS.

Há uma fácil solução, na teoria.

Eu tenho um bom emprego, estou cursando uma faculdade particular, mas dói meu coração ao ver a criança com fome, eu então convido uns amigos e vamos ao centro da cidade distribuir alguns panfletos que imprimimos em nossas casas com computadores e internet, duas horas após a distribuição dos panfletos, uma mãe revoltada une-se a nós e começa a fazer um escândalo, gritos e xingamentos. Logo 20, 30 pessoas estão conosco e as 20 gritam por seus direitos, em 5 horas, 100 pessoas e 30 cartazes, e eu e meus amigos ficamos ali, afinal fomos nós quem começamos e não há violência, há um protesto. Ao mesmo tempo no Rio de Janeiro um jovem filho de atriz morre num acidente de carro após uma balada, todos no carro bêbados, e todos, menores. Enquanto isso por aqui, a polícia chega. Derrepende vejo meu amigo caído com sangue no rosto, e o próximo sou eu. Lá se vai meu óculos, comprado por 300 reais em suaves prestações de 100. E lá se vai também alguns mLs de sangue, e bem, mesmo no chão alguém continua me chutando, nas costas. Quem me chuta está de botina e tem em sua cintura um revólver. Eu, é claro, como não corri, sou conduzido até a delegacia. Logo eu que estava preocupado só em ajudar com informação e com o quanto de tinta sobraria na minha impressora depois de imprimir 100 folhas. Dois dias depois, o mesmo sujeito que me chutou, que quebrou-me umas duas costelas é morto em um tiroteio com ladrões de banco que haviam armas 2 vezes mais mortíferas que o mero revólver.

No outro dia à noite, era a notícia nos jornais, aliás, eram as notícias. O jovem filho da atriz recebia flores no caixão e as câmeras filmavam a atriz sem descanço, até a boate onde estavam foi fechada pois vendiam bebida aos menores. E o policial coitado, homem da lei e da ordem, morreu tentando salvar o dinheiro roubado. No final uma curta matéria de 30 segundos informando que 3% da população saiu da linha da miséria. E eu ali, deitado na cama de hospital, quase reconheci o rosto do corajoso oficial que me deixara no hospital por 6 dias e 5 noites. Eu só
estava preocupado em como eu iria gastar meu salário comprando um óculos, um cartucho Lexmark, um camisa para repor a rasgada e outras bobagens, pois pelo menos 3% eu consegui.

Nenhum comentário: